Como avança a Pandemia em 9 Capitais Brasileiras: A Situação de Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e São Paulo

A Rede de Pesquisa Solidária tem utilizado o nível de risco de incidência da COVID-19, conforme proposto pelo Harvard Global Health Institute (HGHI), para analisar a evolução da pandemia nos estados brasileiros. Nesta nota, propomos analisar o nível de risco à pandemia COVID-19 em 9 capitais: Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e São Paulo. Essas cidades são importantes de serem estudadas pois, desde o início da pandemia, essas capitais têm reportado um número elevado de casos. Ademais, elas são representativas de diferentes regiões do país e fornecem um panorama mais geral do que está ocorrendo em outras capitais brasileiras. Focamos nossa análise no período desde o início da pandemia até o mês de agosto de 2020. A Rede não analisou dados do mês de setembro pois, pela experiência de monitoramento, os dados mais recentes sofrem consideráveis correções posteriormente[1].

O objetivo do nível de risco COVID-19 é mostrar a severidade da epidemia em uma determinada localidade e, portanto, definir qual deveria ser a intensidade dos esforços dos governos para responder adequadamente à situação. O indicador de nível de risco do HGHI é estimado através da média móvel dos casos confirmados por 100 mil habitantes e classifica o risco em quatro níveis: alto, moderado-alto, moderado-baixo e baixo (ver Tabela 1). A média móvel corresponde à média do número de casos por 100 mil habitantes de 7 dias, centrada no dia em questão. Para os dados de casos, utilizamos como fonte o banco de dados compilado por Justen et al. (2020) na plataforma Brasil io.

Tabela 1. Níveis de Risco de COVID-19 de acordo com Incidência de Novos Casos Diários

Fonte: Adaptado do Harvard Global Health Institute (https://globalepidemics.org/key-metrics-for-covid-suppression). Níveis de risco baseados na média dos novos casos diários por 100 mil habitantes nos últimos 7 dias.

A Figura 1 mostra que, embora em 15 de março todas as capitais estivessem em nível baixo, desde junho, a maior parte das capitais analisadas estão sob risco de COVID-19 moderado-alto ou alto.  Dentre essas capitais, as primeiras a reportarem alto nível de risco foram Recife (na semana 21, em 17 de maio) e Manaus (na semana 22, em 24 de maio). A partir de junho, Salvador, Goiânia e São Paulo passaram a apresentar nível alto de risco de COVID-19. Vale ressaltar que Goiânia está sob nível alto desde a semana 30 (em 19 de julho). Somente Fortaleza tem se mantido em nível de risco moderado-baixo continuamente até o final de agosto, apesar de ter apresentado níveis mais graves da pandemia durante os meses de maio e junho.

Figura 1. Nível de Risco de COVID-19 em Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo entre 15 de março e 29 de agosto (média móvel de novos casos por 100 mil habitantes por semana epidemiológica)

Fonte: Nível de risco calculado pelas autoras utilizando dados de casos (Justen et al. 2020) por 100 mil habitantes para cada uma das nove capitais.

De acordo com o Harvard Global Health Institute (HGHI), as localidades enquadradas no nível de risco à COVID-19 moderado-alto apresentam propagação do novo coronavírus acelerada e, neste caso, os governos devem responder com medidas para que a população fique em casa (“stay at home orders”) e/ou com programas rigorosos de testagem e rastreamento de contatos. Já nas localidades em que o nível COVID-19 é alto, a situação é considerada crítica e demanda medidas de maior restrição da mobilidade de pessoas, como indicações de que a população fique em casa.

A partir da Figura 2, é possível observar como a média móvel de novos casos variou ao longo de julho e agosto nas capitais analisadas. Das nove capitais estudadas, Porto Alegre foi aquela que apresentou um aumento expressivo na média móvel ao final de agosto, chegando a 28 casos diários por 100 mil habitantes. Apesar de apresentar queda no número de novos casos diários no final de agosto, Goiânia foi a capital que apresentou a maior média móvel. No final do mês de agosto, a capital de Goiás registrou uma média de 30 casos diários por 100 mil habitantes. Por outro lado, a capital que fechou o mês de agosto com a menor média móvel foi Recife que registrou menos de 5 casos diários por 100 mil habitantes em 31 de agosto. Ao longo desses dois meses, nenhuma das capitais analisadas apresentou uma média móvel inferior a 1 caso por 100 mil habitantes que estaria próximo ao nível de risco COVID-19 baixo, em que a contenção da pandemia está no caminho certo, de acordo com o Harvard Global Health Institute (HGHI).

Figura 2. Média móvel de novos casos por 100 mil habitantes nos meses de julho e agosto por capital.

Fonte: Justen et al. (2020).

Ao contrário do critério proposto pelo HGHI, muitas destas capitais se autoclassificam em melhor nível de risco e adotam medidas de flexibilização que não condizem com as medidas de controle da pandemia sugeridas pelo instituto, como pode ser observado na Tabela 2. Das nove capitais analisadas, seis informam a fase atual na qual os municípios se enquadram em relação aos planos de reabertura propostos. Em relação à Goiânia, Manaus e Porto Alegre não foram identificados planos de reabertura com fases de enquadramento e critérios de avaliação, sendo somente apresentada uma listagem de atividades permitidas.

Em relação às seis capitais que apresentam os critérios de abertura de estabelecimentos e a fase na qual estão de acordo com seus planos de reabertura, todas, exceto São Paulo, classificam-se no nível de menor risco à COVID-19 e, portanto, enquadram-se nas fases mais brandas segundo os critérios de seus planos. Desse modo, todas as capitais analisadas têm poucas atividades ainda restritas, como grandes eventos e aglomerações. Entretanto, ainda que com limitações no horário de funcionamento em algumas cidades, os estabelecimentos de serviço, lazer e religiosos encontram-se abertos.

Destaca-se que esta percepção de menor risco na qual as cidades se autoclassificam não corresponde à classificação das mesmas seguindo critérios definidos pelo HGHI. Uma consequência dessa disparidade é que as medidas de distanciamento social adotadas pelos gestores não estão em consonância com o nível de severidade da pandemia nesses locais. Por este motivo, o HGHI não descarta a possibilidade de fechamento de estabelecimentos e atividades anteriormente liberadas, caso a pandemia se agrave no local estudado. 

Tabela 2. Nível de risco à COVID-19 segundo critérios do Instituto de Saúde Global de Harvard (HGHI) e  da classificação dada pelas próprias prefeituras, assim como algumas das atividades permitidas em 31 de agosto de 2020.

Fontes: Prefeitura de Belo Horizonte (https://prefeitura.pbh.gov.br/reabertura-de-atividades ); Prefeitura de Fortaleza (https://saude.fortaleza.ce.gov.br/images/coronavirus/PDFS/Informe%20semanal%20COVID-19%20SE%2026ª%202020_SMS%20Fortaleza-compactado.pdf ); Prefeitura de Goiânia (https://www.goiania.go.gov.br/reabertura-de-comercio-e-servicos/ ); Prefeitura de Porto Alegre (http://dopaonlineupload.procempa.com.br/dopaonlineupload/3626_ce_301104_1.pdf); Prefeitura do Rio de Janeiro (https://riocontraocorona.rio ); Prefeitura de Recife (https://novocoronavirus.recife.pe.gov.br; www.pecontracoronavirus.pe.gov.br/); Prefeitura de Salvador (http://www.informe.salvador.ba.gov.br/coronavirus/; https://leismunicipais.com.br/a/ba/s/salvador/decreto/2020/3277/32769/ (decreto-n-32769-2020)); Prefeitura de Manaus (https://covid19.manaus.am.gov.br ); Prefeitura de São Paulo (https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/index.php?p=295572 ).

Referências

JUSTEN, Álvaro et al. Brasil.io: dataset: covid19. [S. l.], 14 set. 2020. Disponível em: https://brasil.io/dataset/covid19/caso/. Acesso em: 4 set. 2020.

Anexos

Anexo 1 – Nível de Risco à COVID-19 entre as semanas epidemiológicas 12 e 35 nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.


[1] Os dados de meses anteriores devem sofrer de atualizações também, mas em menor escala.